Em janeiro de 2022, a síndrome de burnout foi oficializada como uma condição de saúde mental atrelada ao trabalho de acordo com a 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), da Organização Mundial da Saúde. Com isso, passa integrar a categoria de doenças ocupacionais.
Esta mudança é muito importante por dois motivos. Primeiramente, o transtorno ganha visibilidade e passa a ser levado mais a sério pelas pessoas. E, além disso, a partir de agora as empresas deverão ter mais responsabilidades e cuidados com o bem-estar dos colaboradores.
No Brasil, a estimativa é de que por volta de 32% da população sofra com o esgotamento mental ocasionado pelas condições de trabalho. Para entender o que muda na realidade das organizações com a nova classificação da OMS, continue a leitura deste artigo!
Antes de qualquer coisa, é necessário entender sobre o que se trata o burnout. É um distúrbio psíquico de estresse físico e mental crônico provocado por condições de trabalho desgastantes. Portanto, se caracteriza pelo acúmulo de estresse e tensão no dia a dia profissional.
É sempre muito importante ressaltar que o burnout está relacionado somente a fenômenos do contexto de trabalho e não deve ser utilizado para se referir a questões em outras esferas da vida.
Entre os gatilhos mais comuns que podem desencadear o distúrbio, podemos citar:
Muitas pessoas confundem o burnout com o estresse, por isso é importante fazer essa diferenciação para evitar a ideia de que o transtorno é apenas um cansaço passageiro.
O estresse é a forma que o corpo reage diante de várias situações que exigem grande esforço emocional. O problema ocorre quando as situações estressantes não são superadas, tornando-se frequentes ou prolongadas. O estresse não é uma doença, mas pode ser um gatilho. Além disso, diferentemente do burnout, é decorrente de questões relacionadas a diversas esferas da vida, não se limitando somente ao contexto profissional.
Há três elementos principais que caracterizam o burnout que são importantes para diferenciá-lo do estresse:
Além disso, é preciso ficar de olho nos seguintes sintomas:
Agora que o burnout integra a categoria de doenças ocupacionais, algumas mudanças importantes acontecerão dentro das organizações. O reconhecimento pela OMS tem um efeito direto em processos trabalhistas relacionados ao transtorno e caso o colaborador opte por recorrer à Justiça, a empresa pode ser responsabilizada e até mesmo pagar indenização.
Por mais que essa implicação de responsabilidade já acontecesse, era um processo bem difícil. A ideia é que, a partir de agora, seja mais simples para o funcionário lutar pelos seus direitos.
Na Justiça, o processo de responsabilização da empresa será avaliado a partir dos seguintes pontos:
Além disso, do mesmo jeito que respondem por indicadores de acidentes de trabalho, as empresas passarão a responder por casos de burnout para acionistas, investidores e para a matriz. E esse é um ponto que mexe muito com a reputação da organização.
Até então, o burnout preocupava as empresas somente pela falta de engajamento, queda da produtividade e turnover. Agora, além disso, a questão também contempla fatores de riscos financeiros e jurídicos.
Tudo isso pode impactar a imagem da empresa diante do mercado, interferindo negativamente na atração e retenção de talentos, além de reduzir o interesse de possíveis investidores.
Por isso, é necessário que as empresas se posicionem em relação à saúde mental dos colaboradores e coloquem em práticas iniciativas que visem oferecer condições de trabalho mais saudáveis.
Apesar das discussões sobre cuidados com a saúde mental terem ganhado visibilidade com a pandemia, pesquisas revelam que a realidade ainda é difícil: 64% dos trabalhadores não têm acesso a programas corporativos e benefícios voltados para a saúde mental.
Hoje, é muito comum as empresas colocarem salas coloridas, escorregadores e jogos no escritório para garantir um dia a dia divertido. Mas é preciso reforçar que esse bem-estar momentâneo não é o suficiente. Os colaboradores precisam de segurança psicológica, ou seja, um ambiente acolhedor e saudável.
Para ir além do discurso, confira algumas práticas que podem ser implementadas nas organizações com o objetivo de evitar complicações relacionadas ao burnout:
A cultura organizacional envolve o conjunto de valores, crenças, hábitos, missão e até mesmo regras formais e informais. O comportamento dos colaboradores e tudo o que acontece no dia a dia, portanto, está pautado na cultura.
A saúde mental precisa fazer parte de tudo isso para que os funcionários tenham consciência de que se trata de uma bandeira importante dentro da organização. A cultura irá pautar questões relacionadas à carga de trabalho, flexibilidade e muitos outros fatores que podem influenciar positiva ou negativamente o dia a dia.
Basta parar e pensar um pouco em quais empresas vem à sua mente quando falamos sobre cuidados com a saúde mental. Provavelmente os nomes que você pensou contam com uma cultura organizacional que valoriza este ponto.
A prevenção e o tratamento do burnout passam pela psicoterapia. É importante que as empresas entendam que em muitos casos somente o auxílio psicológico de um profissional especializado poderá ajudar a cuidar do problema.
Infelizmente, a terapia ainda é inacessível para muitos brasileiros e uma solução é oferecer este serviço como benefício corporativo. Além de ser uma ótima maneira de elevar a qualidade de vida dos funcionários, também é importante para trabalhar a marca empregadora e atrair e reter talentos na empresa.
Equilíbrio entre vida pessoal e profissional é um dos caminhos para prevenir a síndrome de burnout. Para que os colaboradores consigam dar conta de tudo, é necessário garantir a flexibilidade de horários, permitindo sair mais cedo ou entrar mais tarde para ir ao médico, levar o filho à escola etc.
Ter uma política clara de home office que facilite a organização das agendas pessoais e profissionais, portanto, é um pré-requisito.
É fundamental munir os funcionários de informações confiáveis para que todos fiquem na mesma página e saibam sobre o que se trata o burnout. Essa é uma das maneiras mais poderosas de aumentar a conscientização sobre o assunto. Além disso, dessa forma todos se sentem mais confortáveis para relatar se estão com os sintomas do distúrbio.
Por meio de palestras com especialistas, como psicólogos e psiquiatras, é possível promover eventos e ações com o objetivo de debater o tema. E com estatísticas e dados é mais fácil transmitir a seriedade.
Outra maneira de levantar a pauta é convidando profissionais do mercado para contarem como descobriram e trataram o burnout. Uma boa história sempre prende a atenção e ajuda no processo de conscientização de forma mais humana.
A partir de agora, o RH é responsável por encaminhar colaboradores diagnosticados com burnout para consultas médicas e acompanhamento de um psicólogo. Além disso, é a área da empresa que precisa entender os fatores que estão desencadeando o distúrbio e o que precisa ser feito para prevenir novos casos.
Entre os pontos que podem ser observados, estão:
Com todos esses pontos de atenção, é essencial que o RH receba maiores investimentos para contratação e treinamentos de profissionais na área de saúde ocupacional e aconselhamento psicológico.
A saúde física também precisa de atenção, pois é uma grande aliada da saúde mental. Para incentivar a prática de atividades físicas, a empresa pode oferecer benefícios como:
Os líderes precisam ser muito bem treinados para serem capazes de detectar quando algo não vai bem com os membros do time e orientá-los a buscar ajuda especializada.
Além disso, as lideranças não devem incentivar cargas de trabalho e responsabilidades excessivas, que comprometam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
O LinkedIn deu um ótimo exemplo em 2021, quando deu uma semana de folga a todos os seus funcionários em prol dos cuidados com a saúde mental. O mesmo tipo de iniciativa foi realizada pela Nike.
Esse tipo de folga, principalmente em momentos de picos de estresse, como durante a pandemia, está se tornando cada vez mais frequente no mundo corporativo. É uma maneira de incentivar os colaboradores a se desconectarem do trabalho e cuidarem de si mesmos por alguns dias (e a ideia é que essa atitude de autocuidado reverbere para as suas vidas como um todo).
Com a nova classificação do burnout, a OMS está contribuindo muito para que as empresas se responsabilizem por condições de trabalho desgastantes e tomem as atitudes necessárias para mudar esse tipo de cenário.
Não é mais possível deixar para depois: a hora de focar nos cuidados com a saúde mental do colaborador é agora. Se a sua organização ainda não tomou providências, comece agora mesmo a traçar um plano de prevenção ao burnout.
Vale lembrar que esse foi um dos temas discutidos no Corporate Mental Health Week 2022, realizados nos dias 26 e 27/01/2022 em São Paulo.
No painel “Burnout como doença de trabalho: o que muda?” Elise Passamani, CCOO da Lew’Lara / TBWA e Luiz Massad, CHRO da Omie, conversaram com Marc Tawil sobre como o Burnout tomou outras proporções dentro das empresas após a determinação da OMS.
Confira na íntegra:
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